sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira a entreter a razão,
Esse comboio de corda
que se chama o coração.

Fernando Pessoa

Memória ao Conservatório Real

Começa por dizer que na «história do Frei Luís de Sousa, (...) há toda a simplicidade de uma fábula trágica antiga». A catástrofe é um duplo suicídio: Manuel de Sousa e Madalena morrem para o mundo. Poderia com o enredo construir uma verdadeira tragédia se quisesse.
Na Memória ao Conservatório Real, Almeida Garrett compara "a desesperada resignação de Prometeu" e os remorsos de Édipo nas tragédias da antiguidade clássica e conclui que não são superiores aos "tormentos de coração e de espírito" que aqui padece Manuel de Sousa Coutinho, "o amante delicado, o pai estremecido, o cristão sincero e temente do seu Deus". Compara ainda os terrores de Jocasta (que "fazem arrepiar as carnes, mas são mais asquerosos do que sublimes") com a dor, a vergonha, os sustos de D. Madalena de Vilhena que "revolvem mais profundamente no coração todas as piedades". Afirma que o conteúdo do Frei Luís de Sousa tem todas as características de uma tragédia. No entanto, chama-lhe drama, por não obedecer à estrutura formal da tragédia. Refere a peça Comédia Famosa a que assistira, na Póvoa de Varzim, sobre o mesmo tema, representada por actores castelhanos.Nesta Memória ao Conservatório, Almeida Garrett apresenta o seu drama romântico Frei Luís de Sousa como derradeiro "trabalho dramático". Este texto constituiria, assim, o balanço da sua intervenção na renovação do teatro em Portugal e uma reflexão sobre a herança clássica e as influências românticas.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Discurso do Ministro da Administração Interna no Dia do Bombeiro

Minhas Senhoras e Meus Senhores

Festejar o Dia Nacional dos Bombeiros é, antes do mais, louvar e honrar os Bombeiros e enaltecer o importante contributo que dão para a prossecução de uma das mais nobres tarefas de serviço público, que é a segurança, a protecção e o socorro das pessoas. É homenagear os homens e mulheres que quotidianamente são protagonistas, quantas vezes anónimos, de histórias de coragem, abnegação e altruísmo.
Os bombeiros são a principal força, e a mais visível, mais próxima dos cidadãos, do Sistema Nacional de Protecção Civil. São os primeiros para quem as pessoas se voltam e por quem chamam em situações aflitivas ou de emergência, a quem cabem tarefas tão vastas como o salvamento e a prestação de primeiros socorros, a quem cabe uma parcela importante da tarefa de acudir a situações de catástrofe ou calamidade pública, e sobre quem recai a parte mais árdua e perigosa do combate aos incêndios. A acção dos bombeiros portugueses, e todos sabemos como a sua abnegação e competência tem sido duramente posta à prova, rege-se por uma perspectiva cívica, humanista e solidária.
É numa perspectiva solidária e cidadã que encaro a protecção civil como um bem público e um serviço fundamental prestado em benefício de toda a sociedade.(...)

Bombeiros Portugueses,
Saudamos a vossa coragem, o vosso altruísmo e o vosso espírito de voluntariado e a vossa generosidade. Sabemos que podemos confiar nos Bombeiros portugueses, que não hesitam perante o sacrifício e dão constantes provas de exemplar dedicação