sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Memória ao Conservatório Real

Começa por dizer que na «história do Frei Luís de Sousa, (...) há toda a simplicidade de uma fábula trágica antiga». A catástrofe é um duplo suicídio: Manuel de Sousa e Madalena morrem para o mundo. Poderia com o enredo construir uma verdadeira tragédia se quisesse.
Na Memória ao Conservatório Real, Almeida Garrett compara "a desesperada resignação de Prometeu" e os remorsos de Édipo nas tragédias da antiguidade clássica e conclui que não são superiores aos "tormentos de coração e de espírito" que aqui padece Manuel de Sousa Coutinho, "o amante delicado, o pai estremecido, o cristão sincero e temente do seu Deus". Compara ainda os terrores de Jocasta (que "fazem arrepiar as carnes, mas são mais asquerosos do que sublimes") com a dor, a vergonha, os sustos de D. Madalena de Vilhena que "revolvem mais profundamente no coração todas as piedades". Afirma que o conteúdo do Frei Luís de Sousa tem todas as características de uma tragédia. No entanto, chama-lhe drama, por não obedecer à estrutura formal da tragédia. Refere a peça Comédia Famosa a que assistira, na Póvoa de Varzim, sobre o mesmo tema, representada por actores castelhanos.Nesta Memória ao Conservatório, Almeida Garrett apresenta o seu drama romântico Frei Luís de Sousa como derradeiro "trabalho dramático". Este texto constituiria, assim, o balanço da sua intervenção na renovação do teatro em Portugal e uma reflexão sobre a herança clássica e as influências românticas.

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